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Uma polêmica em relação ao exame

  • Wenddell Juler
  • 19 de mai. de 2016
  • 4 min de leitura

REFERÊNCIA

BARRIGA, Angel Diaz. Uma polêmica em relação ao exame: In: ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. 5. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 51-82.

“O exame se converteu num instrumento no qual se deposita a esperança de melhorar a educação”. É com essa afirmação que Barriga (2003, p. 51-82) introduz um debate em torno da problematização da utilização do exame, desde o seu conceito até sua funcionalidade e utilidade historicamente e a sua reprodução como herança nos dias de hoje.


Em uma abordagem conceitual do papel da aplicação do exame, tendo em base todo o seu contexto histórico, o exame nada mais é que um instrumento seletivo de restrição de um indivíduo à educação. Seletivo porque verifica com base em notas os possíveis “melhores” entre uma gama maior de pessoas, e restritivo já que exclui os reprovados e selecionam os mais aptos, julgados pelo o exame. É preciso ter em mente que a finalidade do exame é simplesmente classificativa e não, necessariamente, indica o grau do saber que um determinado sujeito possui.


Barriga (2003) aponta a naturalidade de enxergar o exame como um elemento inerente à prática educativa, como se fosse obrigatório os alunos serem examinados após uma aula, com o intuito de verificar se houve uma absorção do conhecimento apresentado em sala. Nesse sentido, o exame se tornou algo comum e natural nas relações que cercam o ambiente escolar, mas não deixou de ser um instrumento meramente restritivo.


Uma base histórica precisa ser posto em pauta para entender a herança da prática do exame e sua nova utilização nos tempos atuais. É preciso identificar sua função no passado para se ter a base de sua usabilidade, ainda seletiva, entre as pessoas.


O exame foi criado pela burocracia chinesa para eleger os membros das castas inferiores. Na Idade Média, não havia um sistema de exames ligados às práticas educativas e toda a atribuição de notas é uma herança do século XIX. Com isso podemos notar que a atualização do exame sempre foi destinada a selecionar, promover ou reprovar e excluir um sujeito e dar atribuições específicas da função que esse sujeito passará a cumprir na sociedade onde está inserido.


Tendo em base todo o seu conteúdo histórico, o exame não é um problema ligado ao conhecimento, mas sim às questões sociais. Por exemplo, o exame não consegue verificar o fator chave da falha do conhecimento do indivíduo, mas a posição falha que esse indivíduo tem ao ser verificado no exame. Com isso, o sujeito é excluído e passa a ocupar uma posição inferior aos que “provaram” pelo o exame o seu sucesso e sua qualificação. Em tese, o exame é um seletor social, mesmo que seja para a exclusão ou inclusão.


Barriga (2003) aponta três inversões do exame ao longo da história: uma que “converte os problemas sociais ao longo da história, outra que converte os problemas metodológicos em problemas só de exames e uma que reduz os problemas teóricos da educação ao âmbito técnico da avaliação”.



A primeira trata-se inverter os problemas sociais em problemas técnicos. Como dito anteriormente, uma das funções do exame é a seletividade. Então frisa a promoção do sujeito de uma série para a outra. Além disso, visa permitir o ingresso de um indivíduo em um sistema, uma forma de admissão ou atribuir títulos profissionais ou certificações legitimando o saber desse sujeito.


A segunda aponta a inversão dos problemas metodológicos a problemas de rendimento: o exame se tornou um espaço para mostrar a competência que o indivíduo adquirira, sendo assim, o exame está ligado ao método, como afirma Comenius (1657). É a partir desse ponto que se pode observar que o exame ganha uma funcionalidade nova em que “é a última parte do método que pode ajudar a aprender”. Com isso, o exame não é o fator decisivo para a promoção do estudante e nem a sua nota. Sendo assim, quando o aluno não aprende, o professor deve revisar o seu método, além de não castigar o aluno pelo o seu mau desempenho em sala ou sobre um assunto específico. O professor deve ter uma visão competente e apoiar o processo de aprendizagem, sendo esta a sua verdadeira tarefa.


O exame deixou de ser um método ligado à aprendizagem e se tornou um método de promoção e qualificação do desempenho estudantil. Os jovens pensam apenas no exame. Com isso, a nova função da prática do exame está centrada na certificação.


A terceira inversão levanta o exame como um problema científico no século XX e uma questão no enfraquecimento das discursões em torno da educação. No século XX novas condições são criadas para a garantia do controle com mecanismos científicos, já que a problemática do controle está ligada a evolução do exame.


No nosso século o termo exame é deixado de lado para dar espaço ao termo “teste” e logo depois, pelo termo “avaliação”. Porém, ambos ainda com o mesmo sentido. Os testes, a exemplo, se tornaram estudos para medir a inteligência, no entanto considerado um instrumento científico, válido e objetivo, como aponta Barriga (2003) e que poderia determinar diversos fatores psicológicos de um sujeito.


Barriga (2003) ainda aponta que “no plano político os testes de inteligência e aprendizagem permitiam justificar o acesso à escola de acordo com as condições individuais”. Assim, a entrada na escola se tornava sujeita a análise por meio desses testes e a inserção do sujeito no ambiente escolar seria simplesmente justificado pela sua aprovação no teste.


O sistema de teste não se difere do exame, já que sua função ainda é seletiva, no entanto é promotora e determinante para a evolução do indivíduo ou a sua exclusão em qualquer meio onde este esteja inserido.



Com isso, foi necessário encontrar um termo que neutralizasse a definição de exame e teste: surge assim a avaliação. Ainda, não tão distante dos métodos e funções dos testes e exames, a avaliação se remete a medição. No entanto, a avalição pode seguir os passos marcados que os exames e os testes possuem, mas se torna mais flexível para o processo de aprendizagem, se for devidamente aplicada.


Com toda a problemática do exame e suas funções, o espaço em que ele se encontra é fielmente quantitativo, fazendo-se necessário uma reverificação no processo escolar e na formalização da prática de aprendizagem, já que é notável que a utilização do exame não reflita o desenvolvimento cognitivo do aluno, mas apenas o colocará em uma sessão classificativa onde poderá obter êxitos ou, simplesmente, um descarte pelo o seu mau sucesso.


 
 
 

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